Tenente-Coronel Pinheiro, comandante do 8º Batalhão de Colatina, fala à Casa Texto com exclusividade
“Que a cidade confie e ajude, porque segurança pública não é só um problema de polícia. É dever de Estado e obrigação de todos.”

Por Guilherme Augusto Zacharias
Fotos Soldado Ramon/8º Batalhão PMES e divulgação PMES
Em sua terceira passagem pelo 8º Batalhão da Polícia Militar de Colatina, o Tenente-Coronel Giglielmo Pinheiro, há 29 anos na instituição e prestes a completar um ano no comando do 8º Batalhão, falou, em entrevista exclusiva à Casa Texto, sobre temas relevantes para a sociedade colatinense; da rotina e das atribuições da Polícia Militar, traduzidas na dedicação incansável dos policiais no combate ao crime, nas parcerias com instituições, dedicadas a amenizar as causas da violência, e junto aos poderes públicos, estadual e municipal, em campanhas de orientação e prevenção da criminalidade.
O Comandante revelou ainda a parceria da Polícia Militar com a população do município, que confia e auxilia o efetivo da PMES a cumprir com mais eficácia a sua atuação na defesa da sociedade: “Que a cidade confie e ajude, porque segurança pública não é só um problema de polícia. É dever de Estado e obrigação de todos.”
Pinheiro falou, também, sobre o orgulho e a alegria, seus e de seus comandados, pelo recebimento de Medalha e Moeda alusivas aos 190 anos da instituição, evento histórico que aconteceu no último dia 15 de abril, na Igreja Batista Atitude, em Vitória.
Casa Texto – Em agosto do ano passado, em depoimento à imprensa sobre a queda dos índices de violência em Colatina, divulgados pelo Instituto Sou da Paz, o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Deverly Pereira Júnior, elencou o que chamou de “três principais motivos” para essa queda; em um deles, o delegado colocou o trabalho da Polícia Militar de Colatina como fundamental nesse processo de redução da violência. Como o senhor avalia essa referência?
Tenente-Coronel Pinheiro – Em primeiro lugar, agradeço ao delegado Deverly a citação; depois, gostaria de destacar as ações conjuntas da Polícia Militar com a Polícia Civil, sempre muito bem elaboradas e com altos índices de aproveitamento no combate ao crime. Sem dúvida nenhuma, essa parceria contribuiu para a queda dos índices de violência na cidade.
Casa Texto – Os crimes não têm hora nem lugar para acontecer, e apesar da queda dos índices de violência, a delinquência não dá trégua, exigindo da Polícia Militar cada vez mais empenho, inteligência e tecnologia para atuar nessa ‘frente de combate’…
Tenente-Coronel Pinheiro – Sim, os desafios, mesmo com a diminuição da violência, são constantes, e cabe à Polícia Militar ir se adaptando cada vez mais e melhor a essa realidade.
Casa Texto – E como se dá essa adaptação?
Tenente-Coronel Pinheiro – Por meio do profissionalismo. Hoje nós temos uma Polícia Militar que trabalha com diversos cursos, seja na área teórica, seja com atividades simulando as atuações na prática. Eu destacaria também os modernos recursos materiais, como as armas não letais, que temos em grande quantidade: bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha, pistolas de choque elétrico… A morte do abordado é a última coisa que o policial deseja, na verdade; a abordagem ao suspeito não é para isso.
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Casa Texto – A opinião pública, muitas vezes levada por um misto de revolta e desinformação, tece críticas exacerbadas às instituições de segurança por uma suposta atitude de benevolência com criminosos. Jargões como “Tinha que matar de uma vez”, ou “Daqui a pouco o vagabundo está na rua”, ou ainda “A polícia prende, o juiz solta”, são críticas recorrentes no seio popular. Qual é o posicionamento oficial da Polícia Militar sobre essas críticas?
“Um dos maiores desafios é termos que conviver com a evolução da legislação.”
Tenente-Coronel Pinheiro – Como disse, a morte do suspeito é o último recurso usado pelo policial militar em um confronto. Repito, não é para isso que vamos para as ruas combater a criminalidade. Antes de chegar a esse extremo, temos que usar todos os recursos para a preservação da vida do abordado; para isso somos treinados. É preciso que a população entenda que não matar criminosos, salvo em situações extremas, é um marco civilizatório de toda sociedade que se reconheça como civilizada. Por outro lado, há imposições legais que forçam esse ‘prende e solta’ de delinquentes.
Casa Texto – E quais seriam esses impedimentos?
Tenente-Coronel Pinheiro – Um dos maiores desafios é termos que conviver com a evolução da legislação. A primazia pela liberdade que tem sido pregada, tem trazido muita demanda para a Polícia Militar. Isso tem levado ao aumento do número de crimes, e a Polícia Militar tem trabalhado muito… Às vezes a gente prende o mesmo indivíduo dez, quinze vezes, mas o juiz tem que interpretar a lei de acordo como ela se impõe, muitas vezes aplicando uma medida cautelar ou decretando a prisão do indivíduo por um determinado tempo.
Casa Texto – Quais são as parcerias que a Polícia Militar vem realizando, tanto no âmbito do combate ao crime quanto na sua prevenção?
Tenente-Coronel Pinheiro – A Polícia Militar trabalha em parceria com várias instituições, a Polícia Civil, o Ministério Público e o Judiciário, a Guarda Municipal de Colatina, a Secretaria Municipal de Assistência Social, nos eventos relacionados a pessoas em situação de rua, a Secretaria Municipal de Educação, no trabalho de prevenção nas escolas… É importante ressaltar que essas parcerias podem variar ao longo do tempo e serem adaptadas de acordo com as necessidades e prioridades da segurança pública no Estado. A colaboração entre as instituições é fundamental para o enfrentamento da criminalidade e a promoção da segurança da população capixaba.
Casa Texto – Em termos de prevenção, o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas) continua sendo a menina dos olhos da Polícia Militar junto à população?
Tenente-Coronel Pinheiro – Eu diria que o Proerd é o maior programa de prevenção às drogas no qual a Polícia Militar está envolvida. Policiais militares ministram aulas para crianças e adolescentes do 5º e 6º ano do ensino fundamental das escolas públicas e particulares, e é exatamente nessa faixa tão importante que os resultados positivos mais se sobressaem. O programa dedica uma atenção especial ao desenvolvimento da autoestima, ao ensino de técnicas de resistência à pressão de grupos e à promoção de alternativas saudáveis para o lazer e o bem-estar. Ao capacitar os jovens a reconhecerem e a resistirem às influências negativas, o Proerd contribui significativamente para a prevenção do envolvimento com drogas e com a criminalidade.
Casa Texto – Um ponto entre os mais importantes para a atuação da Polícia Militar no combate ao crime é o apoio e a interação com a população, que muitas vezes, por meio dos canais disponíveis, denuncia as ações dos criminosos. Em Colatina, como se dá essa interatividade com a comunidade?
Tenente-Coronel Pinheiro – Da melhor maneira possível. Além dos canais oficiais, como o 190 e o 181, em Colatina temos uma particularidade que ajuda em muito o trabalho da Polícia Militar: 99% do nosso efetivo policial mora na cidade, e isso cria uma relação de empatia e confiança com a população que faz o diferencial no nosso trabalho.
Casa Texto – Como assim?
Tenente-Coronel Pinheiro – Além de quase todo efetivo morar em Colatina, nossos policiais amam esta cidade e fazem um trabalho incansável no combate ao crime. Muitas vezes, moradores vizinhos desses policiais entram em contato com eles pelo seu WhatsApp pessoal para fazer denúncias. A partir do momento que chega um indivíduo diferente, por exemplo, um criminoso que vem de Vitória, do Rio de Janeiro, as pessoas denunciam, pela confiança nessa relação polícia-sociedade.
Casa Texto – Algum exemplo de prisão nessas condições?
Tenente-Coronel Pinheiro – Sim, essa proximidade dos moradores dos bairros com os policiais resultou, há alguns meses, na prisão de um indivíduo da gangue da Tropa do Urso, que veio da Serra para se instalar no bairro São Judas Tadeu. Na ocasião, nessa operação em conjunto com a Polícia Civil (DHPP), além da prisão, apreendemos armas, drogas e dinheiro. Nós estamos trabalhando demais para impedir que essas gangues venham de fora e se instalem na cidade.
Casa Texto – As denúncias e as críticas na imprensa sobre eventuais atuações da Polícia Militar descritas como criminosas, ou ao menos como extremamente truculentas, muito mais do que as operações positivas, são uma constante nas publicações em todos os noticiários. Um exemplo recente foi o caso do jovem Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, morto por policiais em uma blitz em Colatina, em condições ainda não totalmente esclarecidas pelas autoridades. Ainda que tenham mais apelo midiático, parece não existir um equilíbrio entre as notícias positivas e as negativas relacionadas à Polícia Militar…
Tenente-Coronel Pinheiro – Desvios de conduta policial representam o que não deveria acontecer: quebra de confiança entre a PM e as comunidades, abuso de poder… Isso gera um interesse maior no público, impulsionado pela curiosidade e pela busca por responsabilização. Claro que essas notícias podem e devem ser publicadas pela imprensa porque até ajudam na elucidação do problema. No entanto, se comparadas às ações positivas da Polícia Militar, que são infinitamente maiores, os desvios de conduta policial são pontos fora da curva. Não que se justifiquem; todos esses casos são apurados e os responsáveis punidos, mas a imprensa, de um modo geral, não valoriza as ações de cunho positivo da Polícia Militar, que, aliás, podem ser encontradas nas nossas mídias sociais (Instagram: @policiamilitar.pmes – Internet: https://pm.es.gov.br/).
Casa Texto – Coronel, para terminar, gostaria do seu depoimento sobre as condecorações comemorativas do aniversário de 190 anos da Polícia Militar, quando o senhor e três comandados seus foram agraciados com a outorga de medalhas e moedas alusivas às comemorações.
Tenente-Coronel Pinheiro – Ao todo foram homenageados 190 policiais, uma alusão aos 190 anos da PMES, entre eles, quatro aqui do 8º Batalhão: eu, o Major Ricardo, subcomandante da Corporação, o Sargento Gama, da 1ª Companhia, que há muitos anos faz um trabalho muito bacana junto às comunidades, e o Sargento Bromatti, da Força Tática. Para nós, foi uma honra receber esse prêmio, esse reconhecimento do nosso trabalho. Vamos ostentar isso com muito orgulho até o final de nossas carreiras.

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